sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A Mentalidade Revolucionária e o Mundo Desigual

Respondo a uma pergunta que propõe uma reflexão sobre o discurso da promoção da igualdade (vamos chamar de SIG), que seria mais ligado ao Socialismo, frente ao discurso da aceitação da desigualdade (SD), que seria mais ligado ao Capitalismo.

1 - Do ponto de vista da melhoria do homem a longuíssimo prazo, a sociedade que admite desigualdades (SD) é mais tolerável ou adequada que a sociedade que propõe a igualdade entre todos (SIG)? 

Considerando que estamos pensando em um mundo real, temos que levar em conta, antes de tudo, a viabilidade desses modelos, pois uma coisa é pensar no âmbito do possível e outra coisa é pensar no âmbito do desejável.
No mundo em que vivemos, não vejo como uma SIG poderia ser viável, pois a sociedade se estrutura em forma de competição. Sempre quando há uma "vaga" que possa ser disputada por diferentes pessoas, a desigualdade entre elas passa a ser avaliada no processo de seleção do candidato a essa "vaga". E isso acontece no mundo de forma generalizada, seja no âmbito profissional, seja no amoroso, seja no âmbito das escolhas pessoais, por exemplo, quando vamos ao cinema ou a um restaurante. Consideramos fatores, características, qualidades, defeitos, é como funciona. A própria natureza usa  a desigualdade como um recurso. Os mais fracos sucumbem; o animal mais lento é devorado pelo predador, assim ocorre na selva. Um candidato a emprego menos XXX será preterido por um mais XXX, quando o fator XXX for importante na escolha. E quando há poucos candidatos aptos às vagas existentes, o "passe"aumenta. Nisso nascem as diferenças salariais tão grandes que existem. Para fugir disso, seria necessário alterar o sistema, ou seja, "quebrar a tradição". E é então que o Comunismo se oferece, em tese, como uma alternativa revolucionária, porque a idéia é romper com as bases, oferecer um mundo novo. Só que o grande problema é que eles não apresentam uma alternativa factível para substituir o que temos aí. Então o discurso da esquerda se torna vazio, baseado na idéia revolucionária de um igualitarismo estéril. Sendo assim, não podendo promover uma revolução estrutural, os que se crêem revolucionários passam a se apegar a pequenas possibilidades de modificações sociais, em busca da melhoria do homem e da sociedade (isso considerando os bem intencionados e esquecendo os que se apropriam do discurso para manipular as massas e buscar poder), numa preocupação com as questões sociais, porque é só o que resta. Só que nesse processo, esbarram na distorção forçada da realidade. Acabam tentando moldar o pensamento coletivo em prol de formatos que consideram ideais, só que acabam agindo, a meu ver, irresponsavelmente, pois é sempre na forma de um teste, com base em teorias sociais não previamente comprovadas na prática. Por exemplo, tentam implantar a ideologia de gênero nas escolas com vistas a combater a homofobia e promover a liberdade das escolhas, sem avaliar as consequências futuras disso. Distribuem cartilhas sobre uso de drogas e prostituição com informações tais, numa linguagem tal, que não sabemos como serão entendidas ou recebidas pelas crianças. Certamente muitos que acreditam nessas cartilhas e nessa nova pedagogia estão movidos pela idéia de promover uma sociedade menos preconceituosa e mais humana, ou seja, melhor, a longo prazo (ou nem tão longo assim), mas isso é forçado. É como se estivessem procurando algo para fazer, como se procurassem um sentido em que aplicar a ideologia. Isso os bem intencionados, porque nesse processo não podemos negar que existem os mal intencionados, que querem fazer das causas sociais um negócio.
Podemos nos perguntar se essas manobras representam um processo necessário à promoção de uma sociedade mais tolerante e menos discriminatória, ou seja, mais igualitária e mais aproximada de um estado de bem estar social, o que retoma a sua pergunta sobre se a SIG não seria uma melhor alternativa à promoção de um homem melhor a longo prazo. Eu penso que as ações que esses movimentos sociais promovem não garantem que a sociedade se tornará melhor. Essa "melhoria" que eles tentam promover não me parece saudável e o método que eles utilizam me parece bastante temerário. Essa tentativa de mudança forçada nos parâmetros do conhecimento dado pelos professores é artificial e carece de um arcabouço familiar que suporte tais informações. Não sabemos o grau de insubordinação ou erotização que essas crianças poderão desenvolver, e em que qualidade. O limite da liberdade é a disciplina (palavras de Paulo Freire) e em que medida essas crianças têm a disciplina como anteparo à liberdade que lhes ensinam? Eles estão fazendo experiências com a sociedade, o que é mesmo típico da mentalidade revolucionária, voltada para o futuro, sem bases concretas e resistente às bases estabelecidas. E ainda considerando que esse processo forçado é um adiantamento do processo, porque não precisamos do Socialismo e nem dos movimentos sociais para avançarmos no desenvolvimento de uma sociedade melhor. A sociedade avança por si, veja a História através dos séculos: houve muita evolução antes da invenção das teorias marxistas. E ainda, veja outras sociedades de culturas mais desenvolvidas: por exemplo, em muitos países não é necessário haver cobrador de ônibus, pois as pessoas pagam as passagens porque sabem que têm essa obrigação. É para esse grau de desenvolvimento que acredito que todas as sociedades caminham (muito não concordam com isso, eu sei); algumas alcançaram antes esse grau mas, a longo prazo, creio que é o destino - com ou sem os movimentos sociais coordenados pelas ditas ONGs Cidadãs, que só fazem tentar acelerar o processo de forma inconsequente. Não que a aceleração desse processo seja uma coisa necessariamente ruim, por isso critico tanto a mídia e o jornalismo por sua omissão em promover valores melhores na sociedade. A comunicação social tem um potencial de contribuição positiva, mas isso não é feito de forma inteligente. Se o fizessem, acho muito difícil que a sociedade não passasse a ser muito melhor. O preconceito, por exemplo, poderia ser combatido em sua raiz, o que não é feito. Quando as pessoas passarem a pensar que um indivíduo não reflete necessariamente o grupo ao qual pertence (num pensamento oposto ao pensamento coletivista, este sim reforçador das idéias discriminatórias, por ser discriminador por essência), vão perceber que é o indivíduo, isoladamente, que deve ser avaliado, dentro de toda sua peculiaridade, que lhe é sempre intrínseca. Ou seja, se alguém pertence a um grupo de característica predominante X, não necessariamente é portador dessa característica, podendo ser muito diferente, talvez oposto. A introjeção verdadeira desse entendimento já é suficiente para eliminar um grande germe do preconceito. Então o que deve ser combatido é a ignorância, mas o que os movimentos sociais fazem? Promovem bandeiras identitárias com vistas a manipular a opinião da sociedade para que as valorizem e as reconheçam. Isso não seria necessário se não houvesse a raiz do preconceito. Concluindo, eles miram no alvo errado.

Se fôssemos imaginar um mundo fictício, concordo que seria melhor que houvesse menos desigualdade e se todos pudessem ter tudo, seria ótimo. Por outro lado, creio que igualitarismo demais também não é bom, pois um grau mínimo de desigualdade é estimulante e mais justo, pois todos deveriam ser premiados de acordo com seus esforços/talentos/escolhas. Essa seria a verdadeira justiça. Nesse sentido, eu adoraria que houvesse uma real meritocracia no mundo, mas de forma que as diferenças jamais fossem absurdas como são hoje. Ninguém precisa ter 1 bilhão de dólares em sua conta bancária. Isso não faz ninguém feliz.


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Sobre o conservadorismo e os "equívocos" da esquerda

Quanto à sua impressão sobre a SD parecer ultrapassada e a SIG parecer mais antenada com um movimento de longo prazo rumo ao futuro, ela nasce das concepções que vc tem. A SD está em constante mutação, mas se vc acreditar nas atribuições que a mídia e os veículos de informação dão ao conservadorismo, vc terá a impressão de que todo conservador é 100% reacionário, retrógrado, autoritário e nunca admite mudanças. Mas essa sociedade que acata a desigualdade (SD) tem seus meandros e gradações, não deve ser vista de forma tão caricata e restrita. Isso é um preconceito que a esquerda planta contra a direita, o que é um contrassenso pois parte justamente de um grupo que combate o preconceito como uma de suas grandes bandeiras. Quer um exemplo? A comunidade esquerdista costuma execrar um senhor chamado Olavo de Carvalho (como se ele fosse tão conservador como dizem). Mas será que ele é tão ruim? Será que ele é mesmo um idiota a quem não devemos dar ouvidos? Quem o critica não o conhece. Então, que o conheçam antes... Tenho visto alguns vídeos seus e percebo que em muitas coisas ele é bastante conservador, às vezes não concordo com algumas, mas ele não é esse reacionário maluco que a esquerda insiste em definir. Deixo aqui um vídeo dele que acho legal, veja os primeiros 6 ou 10 minutos (pp. aos 5 e 6) e pense se o que a esquerda fala é verdade. Veja que pessoa autoritária e retrógrada... SQN! Sem nunca esquecer que nada precisa ser visto como um pacote, como bem explica Clarion de Laffalot em sua Metáfora da Caixa de Bombom.



Agora vamos ver a imagem fantasiosa que um "intelectual" de esquerda faz do conservadorismo...



 - Naranjo diz que cultura patriarcal é muito competitiva, agressiva e exporadora, o que reforça a mensagem sempre repetida em todo discurso esquerdista de atribuir características ruins ao conservadorismo.
- Ele faz uma clara oposição entre a sociedade patriarcal que não ama versus algum outro tipo de sociedade (certamente o que seria uma sociedade ideal, pensamento típico da mentalidade revolucionária, comentada no último vídeo desta postagem) que ama.
- Diz que as pessoas aprenderam na cultura patriarcal a odiar a si mesmas e a tratar a si mesmas como escravas - de onde ele tirou isso? Parece-me lógico que venha do discurso maniqueísta marxista dogmático de sempre. A única coisa interessante que ele fala é sobre a distinção entre egoísmo e amor próprio, apesar de ser um tanto óbvio.
- Quando ele fala na educação que deveria ser libertadora, logo depois de falar em liberdade sexual (e ele não fez o comentário anterior à toa), ele dá mais um tapa no conservadorismo, sugerindo a idéia de que a sociedade conservadora tolhe a liberdade das pessoas e que devemos ser mais livres, inclusive para seguir nossos impulsos (vê um pequeno incentivo à promiscuidade aí?)
- Ele diz que a família quer tolher a liberdade da criança porque tem medo de que se rompa a ordem hierárquica, como se fosse essa a questão e como se isso fosse verdade.

O discurso desse senhor é um discurso contra a autoridade, tanto a autoridade familiar como a autoridade do professor na educação tradicional. Resultado? Mais um reforço da idéia de que o conservadorismo é mau, tolhe nossas liberdade e devemos nos libertar dele. Ele diz coisa bonitas e tendemos a concordar, mas entremeado às suas palavras há mensagens indutoras do preconceito contra o conservadorismo e a sociedade patriarcal, ou seja, contra o passado e o que temos hoje. É um discurso progressista que, de certa forma, visa ao futuro e à transformação da sociedade. Então eu me lembro de um vídeo de Olavo de Carvalho (ele, de novo!) em que ele comenta sobre algo chamado delírio de interpretação:


(Bônus nos comentários)

3 comentários:

  1. Bônus
    https://www.youtube.com/watch?v=Lk7_CrqCM-0

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    Respostas
    1. Com todos os exageros olavianos (ou não), ajuda a ampliar os pontos de vista.

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  2. O vídeo do comentário anterior é um drops, mas um que recomendo ver, mais longo e mais enriquecedor, é este https://www.youtube.com/watch?v=mQqMrr6uo2g

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