segunda-feira, 4 de março de 2019

Do conhecimento prévio que dá sentido a algumas vidas

Há algum tempo criei uma analogia simples para explicar uma coisa que é bastante óbvia mas que parece que nunca entra no diagnóstico das relações humanas. E esse diagnóstico salvaria tantas vidas...


“Era uma vez uma cidade pacata do interior chamada Fyndmund, onde Joaquim havia ido morar recentemente. Essa cidade tão tranquila era habitada por pessoas que só sabiam o que acontecia dentro da cidade e nunca haviam tido contato com habitantes vindos de outros lugares. Não conheciam nem mesmo músicas ou filmes de fora, nem livros, nada. Joaquim estranhou bastante quando foi morar lá, pois conhecera vários lugares, viajara bastante e lera muitos livros, do mundo todo. Era aficcionado por música e cinema e tinha uma vasta coleção de álbuns e filmes, sendo que seu artista favorito era Mick Jagger. Sonhava conhecê-lo. 
Um dia, em casa, olhou pela janela e viu uma figura conhecida passando. Ele então saiu para ver melhor e se certificar de que não estava vendo coisas. Quando se aproximou, deu-se conta de que era Mick Jagger. Entusiasmadíssimo, foi conversar com ele e Mick lhe falou que estava de mudança para a cidadezinha e seria seu vizinho da casa ao lado. Ele quis ligar para todo mundo que conhecia para contar a boa nova mas lembrou que na cidade não havia sinal de celular, nem telefone fixo e nem internet. Só poderia falar mesmo com os fyndmundenses. Então Mick retornou para pegar sua mudança e Joaquim ficou ali olhando o seu  ídolo  se afastar, maravilhado.  Dali a instantes passou um morador da cidade e Joaquim foi ao encontro dele e então falou, animadíssimo, que Mick Jagger estava indo morar lá e seria seu vizinho. E o fyndmundense, sem fazer idéia de quem era Mick Jagger, respondeu com a maior calma do mundo: “Ok, legal”. Deu um sorriso, sem entender o motivo de tanta euforia, e se afastou, seguindo seu caminho e pensando: “O pessoal que vem de fora é sempre doido. Fica entusiasmado com cada coisa...”
E Joaquim seguiu assim, contando a todos a boa nova que não despertava interesse em ninguém. Mick fez sua mudança e se tornou amigo de Joaquim, que era o único ali que tinha alguma idéia do que o astro falava. Algumas semanas depois, Mick contou a Joaquim que havia se cansado da cidade e estava indo embora para um lugar bem distante. Joaquim ficou arrasadíssimo e quis sair da cidade também, ir para a casa de amigos, contar tudo que acontecia. Mas a cidade era uma ilha e navio nenhum chegava lá. Só se podia sair de avião, mas ele não havia conseguido renovar o passaporte, o que demoraria muito tempo.
Seguiu então a vida, enquanto esperava a renovação do documento. Nos dias que passavam, falava muitas coisas mas ninguém à sua volta se interessava pelo que ele dizia. Com o passar do tempo, foi-se acumulando em seu peito, a cada instante, a frustração de falar das suas coisas importantes que para os outros não tinham valor algum. E foi surgindo nele, cada vez mais, a vontade de não falar com ninguém. Os outros achavam estranho, pois ele não se interessava por nada que havia na cidade e era sempre quieto demais. E quando ele foi embora, todos acharam bom”.

Fim. 

domingo, 3 de março de 2019

Sobre presos, balé e cachos de uva

Como funciona um movimento?

Se prendessem hoje 200 soldados do PCC e Marcola mandasse todos falarem que a polícia os obrigou a dançar balé com um cacho de uva na cabeça, todos falariam a mesma coisa e os jornalistas do movimento (já colocados anos antes em postos importantes da imprensa) fariam grandes reportagens sobre como a polícia opressora age com presos, balés e cachos de uva. Escritores colocados estrategicamente em voga escreveriam livros sobre a "opressão policial", que acabariam parando em uma Bienal e seriam promovidos nos cadernos de cultura dos grandes jornais. Cineastas alçados à fama pela organização fariam filmes baseados nesses livros. Anos depois, alguns presos se tornariam atores; outros, jornalistas; outros, escritores e artistas plásticos. E todos contariam essa narrativa em suas artes, repetindo as mesmas histórias. Grandes exposições aconteceriam para lembrar ao povo as uvas nas cabeças, os pliês e os espacatos no tempo em a polícia malvada fez os guerreiros do movimento dançarem, pois eles só lutavam por paz, justiça, liberdade, igualdade e união (o lema do PCC é PJLIU). 

Obs.: Como é fácil perceber, essa é uma analogia que se refere ao trabalho que a esquerda fez na nossa cultura. E pra vc que acha que marxismo cultural é muito conspiracionismo, só um exemplo: a StB era o órgão da KGB responsável pelas ações de infiltração de agentes no Brasil e isso foi revelado em um livro escrito por pesquisadores que foram ao arquivo traduzir os documentos originais. O resultado do trabalho se chama “1964, O Elo Perdido”. Dê-se um presente ;)

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