quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A falácia do espantalho: no recorte da fala

Uma coisa bastante importante que vejo ser muito desprezada é a arte de interpretar informações de acordo com o contexto em que se diz as coisas. Por exemplo:
Se eu leio em algum lugar que o tirano X foi um grande ditador, há diferentes formas de entender isso:
1 - No contexto do que se define como bom governante (uma definição mais absoluta):  grande pessoa,  bem intencionado, honesto, bom gestor, que governa para o bem de sua nação e seu povo, de modo a evitar seu sofrimento etc, enfim, um estadista, um grande ditador.
2 - No contexto do destaque na história (uma definição mais relativa): são os ditadores que mais se destacaram, ainda que tenham sido péssimos, como Mao, Stalin, Hitler e Pol Pot. São os grandes ditadores da História.
Muitas vezes, falamos coisas que só têm sentido em um contexto específico que está dentro de nossa visão (p. ex. no caso 1 acima) e a pessoa que ouve entende a informação em um contexto que vem de outra visão que ela está tendo (p. ex. em 2). Existem muitas formas diferentes de olhar as coisas, que variam inclusive de acordo com o momento e o jeito de quem fala. P. ex., quando brincamos, como ao dizer que João Gordo é uma grande pessoa, fica nítido quando é uma ironia, ao vermos o tom e o jeito da fala. O problema é que numa discussão nem sempre é tão simples detectar o sentido das palavras e frases. Às vezes algo que ouvimos ou lemos nos leva a interpretar de um jeito que nos faz pensar mal de quem fala, mas deveríamos sempre desconfiar de uma segunda interpretação. O exercício é fornecer a nós mesmos uma alternativa que daria uma outra explicação ao que é dito. Como ouvir alguém falando que Mao foi um grande ditador; neste caso, devemos pensar: grande em que sentido? Olhando para quem fala, se for alguém de direita, a interpretação certamente deverá ser no sentido comparativo (item 2 acima), então se aquilo se encaixa no contexto do que a pessoa está dizendo (e geralmente a hipótese se confirma assim), consideramos que ela falou no sentido 2. Em vários casos pode haver dúvida, então basta questionar em que sentido a pessoa falou. O que vejo acontecer muitas vezes é uma IMENSA má vontade ou falta de noção de que é necessário sempre fazer esse exercício de interpretação alternativa.
Existe sempre a tendência, parece-me que nas pessoas em geral, de tentar enquadrar tudo o que se ouve em uma visão estática e própria das coisas. É um problema comum, que a sociedade já deveria ter solucionado, ou seja, isso deveria ser ensinado nas escolas ou em família, ou entre amigos, passado de pessoa pra pessoa... mas não se fala nisso. Essa é uma forma importante de abordar a informação que evita muitos conflitos, muitas más interpretações, muitos problemas, enfim... tanto na vida pessoal como na profissional.  Quantas amizades, namoros, casamentos e carreiras são destruídos por essa anomalia lógica da compreensão? Sou da teoria de que ninguém no mundo jamais escapou ileso desse fenômeno; seja como vítima, seja como agente.

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